sábado, 16 de maio de 2009

A Vida Como Ela Talvez Seja (escrito pela última vez em 02/07/2008)

Capítulo 1 – A Cozinha
Sobre finalmente escrever

O bife estava mais ou menos duro e mais ou menos salgado. O purê (ou pirê...?) estava com um sabor bom, mas tinha pedaços incomodamente grandes.
- O purê está bom. – Falou Pedro para sua mãe, interrompendo a discussão (ou era alguma conversa normal, nunca sei) que tinha com sua avó. – Mas está pedaçudo.
- Não, não pode ser. – Respondeu a mãe, arrastando no sotaque argentino, com especial entonação por estar recém saída do espanhol enquanto conversava (ou discutia) com sua própria mãe.
As duas começaram a se falar em um espanhol quase incompreensível para ele. Quase, pois não tinha vontade de se concentrar para entender. Sabia somente que era sobre o purê e que tinha um tom de escárnio sobre sua acusação de ele ter pedaços, sobre como haviam esmagado bem as batatas.
- Eu ainda não peguei nenhum pedaço ruim. – Disse a mãe, segurando o garfo com um pouco de purê, com o cotovelo apoiado na pequena mesa para quatro pessoas (que só cabem três, é um saco quando tem que ter quatro sentados). Em seguida, comeu distraidamente.
- Está muito gostosinho – Completou a avó com um portunhol pausado, que Pedro considerava quase como um insulto, apesar de não entender quase nada quando falavam em espanhol pleno.
Durante todo o almoço permanecera calado. Estavam somente os três em casa. Falava pouco durante as refeições. Falava pouco quase o tempo todo, mas pensava muito, pensava demais.
Já me sinto egocêntrico e estúpido, ainda mais usando meu nome de verdade... O que a abuela comia aquela hora...?
A vó tinha no prato dois pedaços de peru, que comia com prazer, dizendo como estava bom. Já haviam se passado cinco dias desde o natal, e ela ainda comia aquele peru com aspecto ressecado enquanto dizia como estava bom... Essa parte, Pedro havia entendido, pelo menos.
Alguns instantes depois, sua mãe olhou-o com uma expressão de surpresa, apontando para sua boca, após colocar um tanto de purê nela.
- Achei um pedaço, grande até. – Disse, voltando-se para a avó. – E cru ainda! Bom, eu admito quando eu estou errada.
Isso o irritou um pouco, sentiu-se ignorado.
Pensando bem, agora me sinto estúpido por ter sentido isso.
A poucas dentadas do fim do bife, sua mãe perguntou com entusiasmo se gostaria de um pedaço de turrón de jijona, um doce típico espanhol, feito de castanhas e mel, que sua avó havia trazido (da Argentina...). Ele estranhou o entusiasmo.
Alguns segundos depois, assim que terminou o seu prato, sua mãe o recolheu.
- Quer uma manga? – Perguntou.
Fingiu pensar na opção da manga, para não disfarçar a irritação e dizer logo “eu quero é o turrón, poxa!”.
- Pode ser. – Respondeu sentindo o gosto da manga em sua mente e considerando as duas sobremesas.
Coisa de gordo.
Ela se esgueirou por trás dele, sentado entre a mesa e o balcão com talheres e outros objetos da cozinha. Observou a avó e notou o espaço detrás dela (estava à sua frente). A porta da área de serviço aberta dava um espaço mais tranqüilo para uma passagem à geladeira. Não importava quem estava sentado à mesa e em qual posição, sua mãe sempre fazia questão em passar por trás dele para passar para qualquer lugar, e isso o irritava profundamente, mas nunca demonstrava. Era nessa aparente calma que ele, naquele momento, pensou que devia estar a explicação daquilo. Era o mais calmo da família, o mais “manso”, e ela sabia que o risco de receber alguma resposta negativa naquilo seria muito menor com ele. Sabia inconscientemente, pelo menos.
Naquele momento decidiu que deveria escrever aquilo.
Lembrar de tudo é feito por uns lapsos de cenas e imagens, juntando com falas, e tudo sem saber exatamente se aconteceram daquela forma, se eu adaptei para memorizar melhor ou se estou inventando. O pior de tudo é quando eu não acredito em mim mesmo, contando algo que eu tenho realmente a lembrança de ter acontecido daquela maneira. Em um lapso, eu pulo da geladeira abrindo, passando pela minha vó pegando um garfo pra mim, na gaveta atrás de mim, porque não lembro de forma alguma porque eu mesmo não peguei. Ela foi demorada e irritante, escolhendo o garfo enquanto minhas costas estavam esmagadas entre a gaveta e a mesa no meu peito.
Comeu com gosto a manga, ou que estava no prato pelo menos. Dois pedaços grandes e suculentos, enquanto via a mãe comer com as mãos os restos.
Minha mãe, sempre come restos. Isso me dá uma pena tremenda, não acho justo, me sinto mimado e mal-agradecido, e penso se ser pai é isso, dar a polpa para o filho e chupar o caroço. Tempos atrás isso era mais uma certeza, via quase como uma obrigação dela e com mais naturalidade. Depois de um tempo que percebi que essa era a forma de se dedicar aos filhos que ela tinha. Neuróticamente altruísta (pelo menos quando se tratava de comida), eu diria.
O primeiro pedaço estava doce e no ponto, suculenta e sem fiapo. Quando começou a comer a segunda, estranhou ter sentido um forte gosto de laranja na fruta. (Eu tinha memorizado algo sobre a mexerica que minha vó comia, e relacionar com isso, mas esqueci). Ia comentar, mas teve preguiça. Convenceu-se depois de alguns instantes que é o mesmo gosto de sempre e ele estava sugestionado pela imagem da mexerica.
Quando terminou, perguntou (gordo!) pelo turrón. A mãe tirou-o de um armário inferior no balcão. Tirou uma caixa fechada e depois uma caixa aberta. Coçou a cabeça olhando a caixa aberta (coçou deve ser forma de expressão, não reparei). Pedro já tinha percebido quando ela mencionou o doce pela primeira vez que havia se esquecido de que já o haviam aberto no dia anterior.
- Eu não entendo, eu devo ter cortado uma caixa inteira no natal, certo?
- Esse é outro, mãe.
- Mas não eram três?
- Sim, eram três. – O portunhol da avó. – O do natal devia ser do Tomaz.
Tomaz é meu irmão mais velho que, com o tempo, embutiu um medo subconsciente em nossas mentes em usar qualquer coisa que fosse dele.
- Esse é outro, mãe.
- Mas porque está aberto?
A avó se levantou pela metade, apoiou uma mão na mesa e pôs a outra na caixa que a filha segurava e olhou para Pedro, com uma cara de espanto.
- Que distraída! – Exclamou olhando para ele. – Não se lembra? Já abrimos este! Essa menina é muito avoada.
Pedro às vezes se irritava com a distração da mãe, mas se irritava ainda mais com as acusações da avó. Alguns dias antes, confrontou a avó, dizendo que era muito exigente com sua filha, que isso não era saudável e conseguia ser irritante também. Sua mãe ficara orgulhosa e quase emocionada com aquilo.
Depois não tive saco pra argumentar a minha acusação, balancei a cabeça enquanto ela dizia, em espanhol pleno, que aquilo não era verdade, e me entreguei de ser preguiçoso demais para continuar a conversa.
- Mas não eram três? – Continuou a mãe.
- Esse é outro, mãe. Abrimos ontem, ou antes.
Ela se sentou. Abanou a cabeça enquanto pegava uma faca e cortava um pedaço do doce.
- Não sei, eu não...
Ela estava com um pedaço na mão, entregando-o ao filho (a comida sempre pro filho primeiro), e parou. Pedro notou uma sensação de déjà vu em seu olhar.
Na verdade, não a olhei nos olhos pra notar isso, mas percebi que tinha se lembrado durante a ação repetida do dia anterior.
- É verdade! Abrimos outro dia. Quando foi? Agora me lembro. Você comentou que tinha menos pedaços de amêndoas.
Pedro disse novamente que havia sido no dia anterior, mas não foi ouvido. A avó exclamou uma satisfação absurda com a conclusão do assunto.
O telefone tocou e a mãe foi atender. Pedro terminou o doce, enrolou um pouco e se levantou.
- Permisso. – Disse pedindo licença para a avó.
Era uma das poucas palavras que falava em espanhol com a avó, talvez fosse para garantir sua saída e manter-se educado. Entretê-la por um segundo, como se fosse um afago ou um comentário gentil, ceder-lhe aos ouvidos a voz do neto na língua ancestral. Normalmente dizia com um sotaque afetado e cômico. Agora num tom como se dissesse “Vá se danar”, sem querer.
Vá se danar? Será que coloco vai tomar no cú?
Enquanto escovava os dentes, decidiu. Começo tudo por aquilo. Capítulo 1 – A Cozinha. Claro, não ia chamar assim, ainda não pensei em um nome pra nada disso.



Capítulo 2 – Primeiras Baladas
Minha primeira ocorrência de uma história legal?

Isso ocorreu há mais ou menos sete anos (sete anos!!!)... O que acontece quando, por sete anos, a mesma história é contada várias vezes? Ela é recorrida pela memória, pela lembrança do evento, ou recapitulada por cada vez contada, carregada por cada distorção eventual dos fatos? Nessa, não lembro de precisar mentir muito... “Pedro, conta alguma coisa legal que aconteceu com você.”
Parte da juventude de Pedro foi marcada por medos, inseguranças e ansiedades. As fases de baladinhas pré-adolescentes e idas ao cinema haviam sido percorridas com o máximo de esquivas e desculpas esfarrapadas (só porque eu pedi para uma menina dançar comigo e foi só isso, na minha primeira baladinha, viro motivo de ridículo e fico traumatizado o resto da vida com essas coisas de “sair”, como uma obrigação e uma cobrança de relações sociais e promiscuidade inveterada). A fase que entrava agora era dos shows, dos quais já vinha desviando a um bom tempo dos convites de seu amigo Rafael (vulgo baiano), mas foi convencido a ir a seu primeiro show (que absurdooooo!!!).
A banda era os Dead Kennedys, grupo de punk rock setentista (ou oitentista... acho que oitentista) o qual Pedro nunca havia escutado na vida. Decidiu ir, ou melhor, cedeu, porque a vida o empurrava a ser menos inseguro e mais normal.
Eu sempre fui cagão. Inseguro, medroso, que seja.... Comodista, como já me disseram. Essas revoluções da vida, crescer, querer se impor como algo diferente do que sempre foi, se rebelar, conhecer outras pessoas, namorar, ficar, “curtir a vida”, como dizem as propagandas de shampoos, chicletes e sucos artificiais light, nunca realmente me interessaram. Mas eu me sentia obrigado a tentar... Eu tinha quinze anos! Como assim nunca tinha ido num show? Que absurdo! Pra não falar de todo o resto que eventualmente aparecerá aqui. Culpa da minha irmã, mas eu não a culpo (?).
Os ingressos foram vendidos na galeria do rock. Também era a primeira vez que Pedro ia nesse lugar (que absurdooooooo!!). Colocou sua única camiseta de banda da época, dos Red Hot Chilli Peppers, do álbum Californication (que alías foi meu primeiro cd... que absurdoooooooooooooooo!!!), e partiram para uma volta de metrô e ônibus até lá (e descobri um bom tempo depois como aquele caminho foi burro, mas também, eu quase nunca pegava ônibus, que absurdoooooooooooooooo!!).
Imaginava das histórias de Rafael sobre suas simples visitas à galeria, mesmo que pouco detalhadas, um grande galpão, com panos pretos pendurados no teto e nas paredes, Com máquinas de vapor funcionando constantemente para criar uma névoa que não permitisse ver o chão, a não ser nos locais em frente às lojas, onde tapetes vermelho sangue de camurça indicavam as entradas, acompanhadas por grandes cetros dourados esculpidos nas formas de dragões (no final, aquela merda é um shoppingzinho feio, amarelado e apertado, freqüentado por grupos de pessoas sem originalidade que se sentem especiais porque não são do tipo da tv.... não eram, na época. Hoje, não entendo bem o propósito dessas “tribos”... odeio esse termo). Não ficou muito surpreso com o que o lugar realmente era, mas ficou tranqüilizado (menos cara de balada do que eu tinha medo).
A loja que vendia os ingressos ficava no primeiro andar. Pedro e Rafael subiram a escada rolante do térreo para o primeiro, Rafael na frente, pois sabia o caminho, e Pedro atrás imaginando se aquele lugar teria algo mais do que lojas de cds e camisetas de banda, piercings e tatuagens. Previsivelmente, a loja ficava entre uma de camisetas e outra de piercings, e vendia cds (na verdade não lembro).
Foram atendidos por um homem de uns trinta e tantos anos, gordo, de regata e cabelo comprido loiro mal cuidado, com tatuagens nos braços fortes, mas não definidos (é um clichê, mas isso era isso mesmo).
- Ainda tem pro show do Dead Kennedys? –Perguntou Rafael.
O homem não ficou surpreso, mas demonstrou orgulho em ver dois jovens (moleques, pirralhos, babacas querendo crescer. Não que eu quisesse, mesmo) se interessando por aquela banda.
- Aham, vinte e cinco reais cada um.
E vinte e cinco reais é tãããão barato pra um show internacional, mas achei caro porque devo ter comparado com ingresso de cinema... Olhei pra trás agora, para meu mural de lembranças mongóis e, hoje, menos especiais (tipo de comentário que, um dia, não vou saber o que quis dizer), e por sorte dei de cara com o ingresso do show. Seis de dezembro de 2001. Seria uma quinta feira o show... Quando fomos comprar o ingresso devia ser segunda feira.
Os dois entregaram o dinheiro, e Pedro observou o ingresso como um objeto simbólico, o primeiro passo de uma conquista em suas transformações.
- Ah, a banda está no terraço dando autógrafos! Ainda deve dar tempo de ir lá! – Disse o homem como se fosse óbvio que qualquer um iria querer pegar autógrafos.
Rafael olhou para Pedro com a mesma expressão, esperando que concordasse em irem até lá.
Eu diria algo do tipo “ah, que se fodam eles, quero voltar pra casa”.
Pedro concordou e foram ao terraço. Do primeiro ao segundo andar havia outra escada rolante, mas do segundo em diante havia uma escada estreita em espiral que subia por mais três andares até o terraço, e isso causou extrema repulsa nele, não por preguiça, mas porque na sua cabeça aquele lugar não era mais “A Galeria do Rock”, mas um shopping cada vez mais muquifento, sem nada de especial e mal-frequentado.
Mas eu nunca me importei, de verdade, com onde você vai, mas sim com quem você vai. Mas é claro que o lugar acaba afetando alguma coisa e isso é outro assunto completamente diferente.
No terraço havia uma fila com mais ou menos quarenta pessoas. Pedro esgueirou o olhar através de uma portinha que saía da apertada escada em espiral para fora até o fim da fila, e viu que terminava em quatro mesas, que pareciam mais carteiras escolares, com quatro velhotes sentados nelas.
Se eu contasse minhas histórias com esse nível de detalhamento, elas seriam insuportáveis (ou talvez não, sei lá). Fique calmo, ainda não começou a parte que, na minha cabeça, foi uma coisa inesquecível.
No meio da fila, notaram que não tinham nada para ser autografado. Rafael pensou em sacrificar sua camiseta, mas Pedro recusou-se a tamanha barbárie (como assim zuar uma camiseta inteira novinha por uns rabiscos? Isso é coisa de maloqueiro!!). Viu que o rapaz à sua frente tinha um cd pirata em mãos, e pensou que poderia ser pior. No fim, fez como a maioria das pessoas na fila, e optou pelos panfletos de divulgação do show que estavam na beira das mesas.
O primeiro da banda na ordem era o guitarrista (eu sabia quem era quem porque o baiano tinha me mostrado alguns vídeos deles antes, era o mínimo sendo que eu mal tinha ouvido falar na banda, mas agora não lembro como ele era sem cair num clichê Keith Richards). Ele acenou a cabeça olhando para Pedro, enquanto pegava o panfleto e rabiscava seu autógrafo no verso com uma caneta preta grossa (qual era o nome dele mesmo?). “D. H. Para....ro”. O garrancho combinado com a caneta falhando não permitiu que o nome fosse identificável. Sabia que eram, mas não sabia seus nomes. Pedro seguiu a fila pensando que devia ser assim mesmo. Não falam sua língua, passaram dezenas de outros fazendo o mesmo que você. Uma acenada de cabeça, um rabisco rápido e pronto.
O próximo era o baterista da banda, um negro enorme, com dreads no cabelo e uma aparência agressiva, e só era possível perceber sua idade por estar junto aos outros. Pedro sentiu um pouco de medo, especialmente quando viu que ele balbuciou alguma coisa apontando para sua camiseta. Nervoso, respondeu com um sorriso genérico, e se pôs em prontidão para compreender inglês.
Não sei bem como narrar essas partes. Vou deixar em inglês e você que vá pegar um dicionário se não entender. A graça dessa história toda, pra mim, foi de conversar com esses caras, consideráveis celebridades, em inglês, sendo que nunca fiz cursos e ainda era bem novo ,eu acho, pra esse tipo de coisa.
- Do you like it? (Você gosta?) – Perguntou o baterista enquanto começava a rabiscar seu autógrafo.
- Sure, it’s ok. (Claro, é legalzinho) – Respondeu sem saber do que estavam falando.
“East Bay Ray”, escreveu o baterista, devolvendo o autógrafo em seguida com uma risada singela.
Depois eu entendi que ele apontou para minha camiseta e disse “Californication, huh?”, e havia perguntado se eu gosto de Red Hot Chilli Peppers. Me senti meio mongol.
Pedro estava tremendo um pouco. Não era parte de seu plano mental conversar em inglês com esses caras que mal sabia quem eram. Temia que perguntassem mais coisas a respeito de si próprios, e ele não soubesse responder. Se sentiria idiota tendo esse tipo de oportunidade pela qual um fã morreria, totalmente desperdiçada.
Passou para o próximo, estando mais atento caso dissessem algo. Era o baixista da banda, um homem com cabelos curtos brancos, usa uns óculos de armação grossa e vermelha, e abriu um grande sorriso para Pedro. Pegou o papel sem dizer nada, e começou a rabiscar. A caneta não pegava e estava começando a estragar o papel.
“Juntando energias para realizar tal manifestação, de forma quase heróica e, na sua cabeça, de extrema impulsividade e inconseqüência, Pedro disse”:
- You’re making a pretty mess there, huh? (Você tá fazendo uma bela zona aí, hein?)
O baixista pegou uma caneta nova e terminou de escrever “Klaus”. O K era o símbolo da banda e o A lembrava o símbolo de anarquia.
- Oh. Would you like me to give you another one? (Oh, você quer que eu te dê outro?) – Perguntou.
- Nah, it’s ok. At least only I will have one of these. (Nah, tudo bem. Pelo menos só eu vou ter um desses)
Eu e minha eterna busca em querer ser exclusivo em coisas banais e insignificantes.
O baixista pegou o papel de volta e voltou a escrever. Pedro achou que ele fosse escrever algo obsceno. Depois achou que teria uma dedicatória.
- Ok, I’ll give something only you will have. (Ok, eu vou te dar algo que só você vai ter)
Escreveu “Flouride”, seu sobrenome, embaixo de seu nome. Pedro entendeu que aquilo significava que não era um autógrafo igual aos dos outros, e que para Klaus, aquilo poderia significar muito para ele.
- Wow, thanks! (Uau, valeu!) – Respondeu com entusiasmo, ainda que o autógrafo em si não significasse muita coisa.
Klaus acenou animadamente, e Pedro foi para o último da fila, o vocalista, que rapidamente pegou o papel de suas mãos.
- Wooooooowww... (Uaaaaaaauuu...) – Disse o vocalista em tom irônico semi-controlado.
Pedro deu uma risada casual e esperou o autógrafo. “Brandon Cruz 2001”.
Quando saíram da fila, Rafael perguntou o que eles haviam conversado.
- Não sei, não entendi nada que eles diziam.
Eu realmente achei que não tinha entendido nada, não foi descaso.
Tá, eu ponho a porcaria das traduções.

Depois disso, os dois foram comprar camisetas novas, para usar no show. Rafael comprou uma do Dead Kennedys. Pedro não se decidia, levou uma dos Beatles (que na época eu não dava bola, mas não queria ter uma camiseta que sabia que não ia usar depois, então preferia ficar seguro na banda que todos dizem ser a melhor de todos os tempos, já que não gostava de outra além do Red Hot... que absurdooooooooooo!!!).
No dia do show, Pedro usou a camiseta nova. Sentia-se intimidado pelos outros Ramones, Sex Pistols e Dead Kennedys, mas sabia que ninguém podia falar nada de seu Beatles (É Beatles porraaaaaaaaaa!!).
Podia terminar assim, mas calma, tem um pouquinho mais.
Quando viu o local do show, Pedro observou o formato de caixa, a grande porta metálica no final de uma fila com centenas de pessoas, orientadas por uma corda em postes que serpenteavam para fora, com seguranças espalhados pelo local.
“Balada”, pensou com receio.
Depois de um tempo ainda pensava em balada nesses lugares, mas todo mundo de preto na porta querendo entrar pela música me acalmava um pouco. Depois de mais um tempo, percebi que quase ninguém realmente vai pela música, ou que ir pela música talvez não seja tão diferente quanto todo o resto. Não se considerando as formas como as pessoas agem nessas ocasiões.
Depois de alguns minutos que ele e Rafael gastaram esperando para entrar, os membros da banda aparecem caminhando pela rua, mas somente alguns poucos percebem sua presença.
Klaus Flouride e East Bay Ray Passavam cumprimentando os fãs, enquanto os outros se mantinham mais isolados. Klaus reconheceu Pedro.
- Hey, Californication. – Disse Klaus, apontando para a camiseta de Pedro. – Now, that’s a good one. (Ei Californication. Agora, essa sim é uma boa).
Essa fala eu acho que inventei depois, não tenho certeza, porque não consigo visualizar muito bem como ele veio falar comigo, e tenho uma impressão dele ter se referido aos Beatles.
- Yeah – respondeu Pedro com um descaso acidental.
Klaus estendeu a mão a Pedro. Pedro respondeu rapidamente, e distraidamente virou as costas. Quando percebeu, Klaus ainda estava ao seu lado, esperando continuar o cumprimento, do tipo de apertar as mãos, desliza-las e bater as mãos fechadas, mas Pedro havia ignorado a parte de bater, e Klaus havia ficado parado lá, com a mão fechada no ar.
Deixei ele no vácuo fazendo toque de mano, ou toque “super-gêmeos, ativar”, como eu carinhosamente chamo esse toque que eu odeio. Enfim, foi legal deixar ele no vácuo, apesar de que me senti mal na hora, mas é engraçado lembrar que o coitado se lembrou de mim e eu pareci que fiz pouco caso dele.
Quando entraram, ainda passaram por mais meia hora sentados em meio a uma pequena multidão, ouvindo mais músicas que Pedro não conhecia, em geral, clássicos do punk rock. Depois, duas bandas ainda menos conhecidas para ele se apresentaram, e achou engraçado como algumas pessoas se empolgavam com bandas daquele tipo, gritando nomes de músicas fervorosamente como se fossem deuses vivos no palco. O que menos entendia eram os grupos que se amontoavam e se chutavam na pista.
Adolescentes idiotas... Se eu tiver um filho assim um dia, vai saber o que é ser chutado de verdade e parar de ser cretino.
No show dos Dead Kennedys, Pedro sentiu claramente a mudança geral. O público mais genuinamente entusiasmado, a banda tecnicamente superior em todos os aspectos, mais experientes e competentes. Permitiu-se divertir um pouco mais.
Era mais de uma da manhã quando o show terminou, e não havia plano nenhum de como voltar para casa. Não haviam mais ônibus e o local era bem longe de suas casas (Barra Funda é longíssimo e inacessível hein, nooooossa). Pedro se disponibilizou a ligar para sua mãe. Já que era a mãe de Rafael quem geralmente dava as caronas, achou justo pelo menos tentar. Não adiantou.
Rafael ligou para sua mãe e, em cerca de meia hora, ela estava lá. Quando chegou em casa, Pedro tomou um banho rápido para tentar se livrar do cheiro habitual de cigarro que fica impregnado no corpo, mas era novidade para ele e correu para dormir. Tinha prova de recuperação de química no dia seguinte.
Sentiu as náuseas e sensações pós show e de noitada, com os quais não estava familiarizado: Cansaço incomum, sentidos debilitados e uma sensação terrível de uma buzina constante em seu ouvido quando tudo era silêncio.
Valeu a experiência, mas não vou em outro show nem fodendo. Foi o que eu pensei no dia, parecido com quando se tem uma bebedeira e depois se promete que nunca mais vai beber. Quase isso, mas é como se depois coisas alheias houvessem me forçado a beber mais de várias formas. Não digo que nunca gostei de nenhum show que fui. Vários foram memoráveis e incríveis, mas também acompanhou minha evolução como músico, como pessoa, como gente. Mas sempre me perguntava como tanta gente gosta de viver constantemente esse tipo de desgaste.
Pelo menos fui bem na prova de química. Me rendeu uma história que acho que gosto mais de contar do que gostam de ouvir.


Capítulo 3 – O Gênio da Escova
Pensamentos idiotas e reprováveis, mas que ainda quero acreditar que todos têm

Isso me passou enquanto escrevia o capítulo 2, logo depois que decidi colocar as traduções. Fui escovar os dentes e me deu vontade de escrever o que me passou pela cabeça.
Uma vez ouvi uma dessas lendas de crianças, que quando você usa uma escova nova pela primeira vez, você pode fazer um desejo. Fantasiei casualmente em cima da possibilidade e rapidamente me vieram três desejos em mente. Uma era voltar e ficar bem com minha namorada, que não sei o que vai acontecer, outra era não pegar DP na prova de programação de amanha, o que é bem provável, e a outra era que o Brasil não se classificasse para a copa do mundo, o que seria lindo, mas muito improvável e não me importa tanto.
Daí me lembrei da história que li do Alladim, que contava que antes da lâmpada mágica, ele encontrava um anel que tinha um gênio que realizava qualquer desejo, mas que não fosse muito grandioso. Então, imaginei o desejo da escova com esse gênio, tendo direito somente a um dos três.
Talvez você se revolte pensando que deveria escolher minha namorada sem nem pensar nos outros, ou pelo menos passar na prova, mas sobre o Brasil fora da copa é uma idiotice e uma heresia nacional. Mas veja bem, eu acredito, com todo meu coração, que vou conseguir me resolver com minha namorada, que nos amamos muito e isso nem deveria precisar de um incentivo mágico para conseguir, certo? Sobre a DP, poderia ser importante, mas sentiria que é um desperdício jogar fora um desejo com algo que, se eu realmente desejasse, poderia muito bem conseguir com mais força de vontade do que eu coloquei nisso. Sobre a copa do mundo, é uma crueldade e uma inutilidade besta seria gastar um desejo com isso, mas pelo menos seria algo realmente improvável de acontecer, e que me deixa muito curioso ver a cara das pessoas se uma coisa dessas acontecesse, então, considerando a parte mágica em se realizar qualquer desejo, faria mais sentido gastar com isso.
Enfim, eu acabei desejando ficar com minha namorada, porque se realmente acontecesse de eu poder realizar um desejo, eu preferiria ter segurança absoluta de conseguir o que eu realmente quero mais que tudo, por mais que eu acredite que vou conseguir de qualquer jeito. Talvez nem seja bom para mim ficar escrevendo sobre isso agora, mas que seja, qualquer coisa depois eu finjo que foi só um pensamento de um suposto namoro, como algo que tenha valor sentimental real.
O que me atraiu a escrever esse capítulo sobre isso, foi pensar como decidir sobre as três coisas diz sobre uma pessoa ser mais racional ou emocional, e sobre riscos ou segurança. Se eu acreditava com toda certeza que ia ficar com minha namorada, não teria sido melhor gastar um desejo mágico com algo que eu sei que é impossível, mesmo que não signifique tanto pra mim? Ou, racionalmente, gastar com algo que eu sei que devo precisar mais, no caso ir bem na prova que sei que não devo ir bem? Eu acabei preferindo me garantir por completo naquilo que eu realmente quero e também preciso, odeio incertezas.
Se quiser pensar no que você desejaria, eu coloco outro exemplo, especialmente porque a coisa da copa poucas pessoas compartilhariam comigo. Você desejaria para seu gênio da escova nova:
a) Encontrar alguém que ame e sentir-se bem (o que todo mundo, de um jeito ou de outro, sob qualquer desfecho, acaba encontrando, mas nunca se sabe, né...)
b) Resolver um problema atual (conta atrasada, tirar uma boa nota, ir bem num teste, qualquer coisa importante, mas mais corriqueira, mas em risco, e que você sabe que não tem saco de dar 100% de você nisso)
c) Ver algo realmente impossível, mas não diretamente ligado a você (seja ver o Bush levando uma surra de uma criança ou qualquer coisa que não lhe acrescente nada de verdade, mas te deixaria muito feliz mais pela impossibilidade)
Ah, nem pensei em coisas do tipo todo dinheiro do mundo, paz na terra, limpeza global, porque o gênio da escova não é tão forte quanto o da lâmpada, lembra?
Bom, vou lá terminar o capítulo 2.


Capítulo 4 – O Primeiro Beijo
Sonho de criança que não cresce

Quando entrou na nova escola, Pedro percebeu que o impacto da mudança era maior do que havia previsto. Além dos horários diferentes, novas pessoas, amizades e professores, Pedro teve que enfrentar junto a tudo isso as mudanças que acontecem para todos ao passar para a quinta série do ensino fundamental.
No primeiro dia, já tinha uma amigo, Eduardo, que morava no mesmo prédio e haviam construído uma amizade simples, mas forte há alguns meses. Contudo, Eduardo era do tipo hipersociável, e possuía vários amigos, com os quais Pedro não conseguia se identificar muito bem, e rapidamente se sentiu isolado e reprimido a isso junto com tantas mudanças, mas ainda assim conseguiu se virar apoiando-se na amizade que possuía individualmente com Eduardo.
Assim se passou até a metade do ano, e as férias foram muito bem vindas para ele fugir, ainda que por pouco tempo, de tudo aquilo. De volta às aulas, Pedro sentiu como se o pouco que havia conseguido construir naquele lugar havia se perdido, e se sentiu novamente afastado de tudo e todos.
Não é fácil para nenhuma criança, especialmente nesta idade, entrar em um ambiente novo. Foi também logo depois das férias que Thaís entrou na classe em que Pedro estudava. Era mais velha e mais desenvolvida que os outros, ou pelo menos era assim que Pedro a percebia, e ela também não parecia conseguir se encaixar muito bem, sendo rapidamente rejeitada pela famigerada turma das meninas populares.
Antes que percebesse, Pedro tinha uma nova amiga. Nunca soube exatamente como isso começou, mas em algum ponto faziam os trabalhos em dupla sempre juntos, ela o acompanhava no recreio e sentavam-se um ao lado do outro. Ela contou que havia repetido um ano, e foi forçada a esperar mais meio ano por causa do sistema da escola antiga, portanto enquanto Pedro tinha onze anos, Thaís tinha treze. Aos seus olhos, ela parecia extremamente exótica, interessante e inatingível.
Aos onze, as relações entre meninos e meninas são complicadas. Os meninos não querem ser vistos com meninas, mas já pensam mais nelas, e as meninas começam a provocar os meninos. Pedro gostava de Thaís, mas era muito frágil às provocações que sofria de seus colegas, insinuando que eram namorados, e esse tipo de coisa afeta muito uma criança.
Eventualmente, Pedro afastou Thaís, fez novos amigos e terminou aquele ano como um garoto normal entre os outros.
Durante as férias de fim de ano, Pedro saía para passear com seu cachorro por uma praça perto de sua casa, como fazia todos os dias. Um dia, encontrou Thaís, e conversaram sobre porque ele a havia afastado. Vê-la daquela forma deixou claro para Pedro seus sentimentos, e impulsivamente, mas inocentemente, disse a ela o quanto era importante para ele. Nesse momento, Thaís beijou-o, e os dois ficaram juntos pelo resto da tarde.
Depois desse dia, Pedro voltava à praça esperando encontrá-la, mas ela não apareceu mais. Foi tolo o bastante para não perguntar seu telefone ou onde morava. Quando as aulas voltaram, descobriu que ela havia saído da escola e que morava do lado daquela praça, mas havia se mudado.
Que mentira deslavada... Eu lembro de ter sido amigo dessa menina na quinta série, e ficavam me enchendo dizendo que éramos namorados, mas o resto dos detalhes é mais um bom exemplo de se eu imagino ou lembro coisas, especialmente quando vem mais da minha infância. Até a parte em que eu afastei ela eu acho que era verdade, e que ela depois sumiu, mas o resto eu inventava quando eu estava em alguma situação em que estavam contando sobre o primeiro beijo e eu, com vergonha, inventava essa história, com adaptações, dependendo do caso.
Eu sei que é ridículo, ou melhor, parece ridículo quando você lembra desse tipo de situação que te deixava com vergonha de admitir seus atrasos, mas às vezes o medo de ser humilhado com a verdade de nunca ter beijado ninguém até os dezessete anos parecia demais para ser revelado assim, como se não fosse nada de mais. E não é nada de mais mesmo.






Capitulo 3 = deprê.
Hoje desejaria pelo Brasil fora da copa.
Que mentira!

domingo, 10 de maio de 2009

Pop

Hoje não estou com a voz em inglês, mas me sinto o mesmo...
Acordei com uma câimbra horrível bem na perna que já está doendo horrores há semanas, e é a única coisa na minha vida que até agora realmente ninguém sabia.
Todos esses dias, quando eu vou até o trabalho, ando até a esquina pra poder determinar o quanto a minha perna vai doer no trajeto, e não contei pra ninguém isso... Tão raro alguma coisa na minha vida que realmente ninguém ssaiba, e isso é estranho se você pensar que cada pessoa que me conhece talvez afirme que não me conhece muito bem.
Não conhece ou não quer saber, sei lá...

Estou meio bêbado. Hoje resolvi ficar de mau humor.
Eu realmente não tive motivos, simplesmente me deu vontade de fechar a cara, rejeitar qualquer socialização e querer ir embora, sem motivo nenhum, de repente.
Geralmente têm motivo, então hoje até foi bom ver isso acontecer genuinamente sem motivo aparente.
E duas novas perspectivas: Quanto mais eu me isolo, mais exigente fico com as pessoas, e isso gera um círculo vicioso crescente fde isolamento e solidão, e eu fico mais velho ranzinza (e vou me importando menos com isso), e me disseram que esquecem que eu tenho irmãos, que pareço filho único, que é algo que na prática não muda nada, mas é uma perspectiva do meu reflexo sobre os outros que eu nunca tinha visto... isso pode ter vários significados.

Isso e "argh, sai daqui, não estou interessado."

Dizem que rir é o melhor remédio... Será que algúem pode ter uma reação alérgica a ele?

I just wonder if i would ever aknowlage a posibility as something good for simply existing, as a "carpe diem" element, witch i always mortally hated.
"Você precisa ser mais impulsivo", ela disse uma vez.
"Mas eu odeio gente que acha que impulsividade é algo invariavelmente boa", eu nunca respondi.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Angel

His only fear along the dark streets where to find the worst kinds of demons. As he turned around a corner, he choacked with his breath, as he saw a girl that he instantelly figured as "nothing less than perfect". Being a few steps away, walking towards each other, time streched, as his heartbeats where taken out of rithm. He felt a soft chill running up his back, as she was one step away from him, and didn't give him a single glance. Looking at her gentle smile towards anything but him, he felt a burning sting in his cheast.
At that instant, at one step away from her, he thrown his hands around her neck. She still wouldn't look at him, as her eyes searched for the black sky while she tryied to make some sound. Along with her last pulsing felt throught his hands, came along a feeling of peace, which he haven't felt in a long time, while the sting in his cheast disapeared.
"What will they find to blame?", he wondered.

domingo, 3 de maio de 2009

Invisible

He arrived at home about 10:20 PM. Tried to ignore his mother on his way throught his room. Turned on the computer, checked that nothing new happened in his life. Tried to chat to someone online, but no one answered with interest. He went to the kitchen, heat up some beans to cheat the hunger and brought it back to his room. He stared at the computer knowing that nothing would happend, but couldn't help staying there and looking at it while eating. He then went to the kitchen, left his dirty plate, ate a cookie, returned to his room and jumped off his window.
His last tought was "I hope my teeth are not too dirty".